Passada a novidade dos materiais novos, novos amigos da nova turma, chegou a hora de encarar o ano escolar. Lição de casa, tarefa, dever, cada um dá o nome que quiser à atividade que todo estudante tem que realizar e que, para muitos, é a primeira grande responsabilidade da vida. Como acontece no ambiente doméstico, muitas vezes o momento da lição de casa pode gerar atritos entre pais e filhos. De um lado, pais cansados com a jornada dupla de trabalho e, do outro, filhos bravos por terem seu tempo "roubado" ou inseguros por não darem conta do recado. Ou então aqueles pais que avançam o sinal e realizam o dever pelo filho para "tirar da frente". Educadores são unânimes: a participação dos pais, desde que com critério, é importante sim.
"O papel dos pais no desenvolvimento e expressão das diferentes competências do filho é fundamental, e muda a cada etapa de escolaridade. O interesse pelas tarefas de casa do filho demonstra o valor que a família dá aos estudos e ao trabalho escolar, precisando, para tanto, estabelecer laços de apoio e afeto que possam favorecer este processo", afirma Quézia Bombonatto, presidente da ABPp, Associação Brasileira de Psicopedagogia. Outro aspecto destacado pela psicopedagoga diz respeito ao espaço físico para a realização da lição de casa, pois, geralmente, os alunos apresentam melhor desempenho quando dispõem de um local adequado para sua realização com mesa, cadeira, boa iluminação, distante de televisão, livre de barulho ou outros estímulos que possam distraí-los.
"Falar sobre lição de casa é discutir sobre as concepções de educação. Educar é formar e propiciar situações nas quais o aluno se sinta co-responsável pelo processo de aprendizagem. É fazê-lo perceber suas potencialidades, dificuldades e responsabilidades, para que se torne autor de suas ações e não um cumpridor de tarefas", reflete Cleuza Vilas Boas, diretora do ensino fundamental da Escola Móbile, zona sul de São Paulo. Nessa perspectiva, a lição, para ela, ganha uma outra dimensão, em que o aluno desenvolve atitudes importantes, a saber, ter hábitos de estudo; responsabilidade; motivação de estudar sozinho, no próprio ritmo; autonomia intelectual; organização; persistência e capacidade de solucionar problemas. "O contado dos pais com os filhos no momento da lição de casa pode ser muito rico, desde que não tomem para si a responsabilidade de responder questões", afirma. Segundo ela, é hora oportuna para troca de vivências, tornando os pais parceiros da vida escolar dos filhos. Além disso, afirma Cleuza, a lição de casa pode servir de preparo para a próxima aula. "Isso instiga a prática investigativa".
Para Rosana Nunes, coordenadora pedagógica do Colégio Hugo Sarmento, na Vila Madalena, é importante que a criança adquira, dia a dia, uma postura de estudante. Para isso, a atuação dos pais é fundamental na hora da lição de casa. A educadora dá algumas dicas de como encarar o desafio:
Definir o horário para a realização da lição
Estabelecer uma rotina com a criança para realizar as tarefas
Manter os materiais em ordem e bom estado
Orientar a criança a não realizar a tarefa caso não tenha entendido
Encaminhar para o professor ou orientador a tarefa "difícil" da criança
Ler sempre que possível bons livros (autores consagrados...) para a criança ampliar o seu repertório
Ler para a criança caso necessite (pode combinar de ler uma parte e a criança lê a outra)
Informar a maneira certa de escrever, quando solicitado, ou sej,a caso a criança esteja na dúvida entre x ou ch, sempre responder a forma correta
Não pressionar a criança com relação aos erros ortográficos
Nunca faça a tarefa pela criança, mas pense junto com ela
Contribuir com informações, caso seja solicitado (entrevistas, pesquisas...)
A lição tem que ser o momento prazeroso, não de brigas e embates pessoais
Apresentar interesse e envolvimento quando a criança traz uma questão para pensar em casa
Criar autonomia, ou seja, que, a cada dia, a criança realize sozinha suas tarefas, mas é importante passar a segurança de estar por perto