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terça-feira, 5 de julho de 2022

Resposta humanitária é urgente para evitar consequências mortais em Borno, na Nigéria

Número de crianças com desnutrição é alarmante e pode piorar com a chegada do período conhecido como "lacuna da fome", que acontece entre as safras de alimentos



Desde maio, Médicos Sem Fronteiras (MSF) tem testemunhado um fluxo sem precedentes de crianças com desnutrição no centro de nutrição da organização em Maiduguri, na Nigéria, o que dá indícios de uma crise nutricional alarmante no estado de Borno. A organização pede que haja uma intensificação urgente da resposta humanitária na região antes do período de pico da chamada "lacuna da fome", que pode ser muito mais grave do que nos anos anteriores se as tendências atuais se mantiverem. A lacuna da fome é o período em que as reservas que as pessoas economizaram da colheita passada começam a se esgotar, mas a nova safra ainda não está pronta. O problema é que as reservas, neste momento, já são poucas ou nenhuma.

“É fundamental que sejam tomadas medidas agora, antes do pico da desnutrição sazonal, para evitar uma situação ainda pior”, diz Shaukat Muttaqi, coordenador-geral de MSF na Nigéria.

“Estamos apenas no início do período da lacuna da fome e nossas instalações já estão sobrecarregadas, com a maior média mensal de pacientes desde que o projeto foi inaugurado em 2017. As tendências anteriores nos dizem que o pior ainda está por vir. Isso é um grande sinal de alarme. A menos que medidas urgentes sejam tomadas para que estejamos preparados para o pico iminente, as pessoas em Maiduguri sofrerão consequências mortais”, diz Muttaqi.

Até o momento, este ano, 2.140 crianças com desnutrição foram internadas para atendimento hospitalar em nosso centro de alimentação terapêutica – cerca de 50% a mais do que no mesmo período do ano passado.

Durante seis semanas em maio e junho, mesmo que a temporada de pico da lacuna da fome mal tivesse começado, chegaram mais pacientes com desnutrição do que em qualquer momento desde que o projeto foi inaugurado, em 2017, inclusive no período mais crítico da temporada em anos anteriores. Até maio, observou-se um aumento de 25% nos registros no nosso programa de alimentação terapêutica ambulatorial em comparação com o ano passado.

Em resposta, nossas equipes ampliaram a capacidade do centro dedicado a essa atividade de 120 para 200 leitos. Mesmo com essa medida de emergência em vigor, houve dias no mês de junho em que o número de camas não foi suficiente para admitir todas as crianças que chegavam com desnutrição.

Outros atores humanitários também têm operado em sua capacidade total, e até além dela. Em alguns casos, as organizações tiveram de reduzir os serviços devido à falta de financiamento - 16 centros de alimentação terapêutica ambulatoriais, embora muito necessários, foram fechados. Como resultado, se as tendências atuais se mantiverem, os serviços ficarão sobrecarregados e muitas outras crianças com desnutrição correrão o risco de morrer.

“O mais urgente é aumentar a capacidade hospitalar para o tratamento de crianças com desnutrição grave. No entanto, isso também acontece paralelamente a uma grande ampliação das intervenções a nível comunitário, para nos anteciparmos a um potencial pior cenário”, diz Muttaqi. “Isso significa expandir os programas de alimentação ambulatorial, segurança alimentar, imunização e acesso à água e à higiene.”

A desnutrição é uma preocupação crônica e multifacetada no estado de Borno, gerada pelo impacto combinado entre deslocamento, insegurança, pobreza, falta de acesso a cuidados de saúde e outros fatores. Ela é historicamente mais aguda entre o final de junho e início de setembro, durante a "estação de escassez" (o período entre o plantio e a colheita). Os fatores agravantes, tais como a baixa imunização, a falta de acesso à água potável, higiene e cuidados de saúde, muitas vezes se combinam à insegurança alimentar crônica e produzem efeitos devastadores para as crianças.

Surtos periódicos de doenças, particularmente sarampo e cólera, bem como picos sazonais de malária, podem agravar ainda mais a situação. No ano passado, a Nigéria vivenciou um surto excepcionalmente grande de cólera, na medida em que as taxas de imunização entre as crianças no estado de Borno são alarmantemente baixas. O acesso a cuidados de saúde também é um desafio diário para as pessoas, particularmente para as que são deslocadas.

“Meus filhos nunca foram vacinados além das vacinas que tomaram ao nascer. Meu filho de quatro anos fica doente durante a estação chuvosa todos os anos”, diz Hussaina Ali.

“Não há instalações médicas gratuitas em nossa região, então eu o levo para a farmácia e pego remédios lá”, conta Hussaina Ali, cujo filho mais novo agora também está com desnutrição e em tratamento no centro de alimentação terapêutica para pacientes internados.

O impacto acumulativo dos conflitos e a insegurança de anos continua a gerar deslocamentos de longo prazo, o que prejudica a capacidade de cultivar alimentos e acessar cuidados de saúde. Como resultado, o aumento dos preços dos alimentos está afetando ainda mais as pessoas deslocadas. No centro de alimentação terapêutica para pacientes internados de MSF, 32% das crianças com desnutrição admitidas pertencem a famílias deslocadas internamente, que são particularmente dependentes da ajuda humanitária.

“À medida que o pico tradicional da estação de escassez se aproxima, Borno está à beira de uma crise que pode colocar a vida de milhares de crianças em perigo”, diz o Dr. Htet Aung Kyi, coordenador-médico de MSF na Nigéria.

“Não há tempo a perder. Uma ampliação urgente da resposta nutricional é necessária agora, e as organizações humanitárias devem estar muito mais preparadas para o pico”, diz Kyi. “Isso significa combater a desnutrição, aumentando a resposta médica, mas também, em paralelo, prevenir ameaças à saúde, como sarampo, cólera e outros surtos de doenças infecciosas.”


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sábado, 2 de julho de 2022

Déficit de atenção: quando uma distração pode ser considerada uma doença


Neurologista revela quais os distúrbios e os seus sintomas


Você já deve ter conhecido alguém que parece viver com a cabeça em outro planeta, sempre distraído e com dificuldade de realizar alguma tarefa que exija muita concentração, não é mesmo? Quando se trata de uma criança, logo pensamos em hiperatividade e, quando a situação é com um adulto, imaginamos que seja apenas falta de paciência. Mas, quando ser distraído deixa de ser apenas uma peculiaridade do indivíduo para se tornar uma doença?

Segundo a médica neurologista e membro titular da Academia Brasileira de Neurologia, Dra. Inara Taís de Almeida, existem duas formas de manifestação de distúrbios relacionados à falta de atenção que podem atingir tanto adultos como crianças, causando graves consequências.

“Os quadros podem ser acompanhados de hiperatividade como acontece no caso do Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), ou sem, como é o caso do Distúrbio de Déficit de Atenção (DDA). Em ambas as manifestações o que acontece é uma disfunção neurológica capaz de afetar o córtex pré-frontal, área responsável pela capacidade de manter a atenção e a organização, de controlar a impulsividade e de demonstrar os sentimentos. Por isso, o paciente tem dificuldades em permanecer atento em situações específicas enquanto outras pessoas não”, explica.

Esses quadros são acusados pela deficiência de Dopamina, um importante neurotransmissor. Por isso, quanto antes for diagnosticado, melhor será o prognóstico para o paciente. Nas crianças, por exemplo, a doença pode prejudicar significativamente o processo de aprendizagem e o desenvolvimento das relações interpessoais.

“As famílias precisam saber que as pessoas com esses tipos de distúrbios nascem assim, desse modo é essencial estarem atentas ao comportamento de suas crianças. É muito comum que nelas a hiperatividade acompanhe o déficit de atenção, por isso a importância do conhecimento. A escola ou os pais não devem concluir sozinhos que a criança é apenas bagunceira ou já pode ser considerada hiperativa. Um diagnóstico correto sempre requer consulta e/ou acompanhamento de um neurologista ou psiquiatra”, alertou.

Já nos adultos, o transtorno não é tão aparente porque a hiperatividade comum da fase infantil tende a diminuir ou até desaparecer ao longo dos anos. Mesmo assim, os sintomas da doença relacionados à dificuldade de concentração podem prejudicar em vários aspectos a vida adulta. Isso porque, afetam os relacionamentos profissionais e pessoais, apresentando comportamentos tais como: dificuldade em expressar sentimentos e em ouvir os outros, dificuldade de se manter parado ou sentado por longos períodos, impaciência para aguardar sua vez de falar ou ser chamado em uma fila, incapacidade de concluir tarefas e cumprir prazos, além da falta de objetivos e planos futuros.

Apesar de não existir cura, a Dra. Inara Taís de Almeida garante que é possível ter boa qualidade de vida convivendo com Distúrbio de Déficit de Atenção.

“O tratamento mais promissor é a união da terapia medicamentosa, com fórmulas que irão regular as funções do córtex pré-frontal, e da terapia psicológica, que irão trabalhar o equilíbrio das emoções. Assim, o paciente tem a ação do remédio no organismo e uma percepção melhor dos seus sentimentos. O resultado é uma mudança de comportamento e um melhor convívio interpessoal”, finalizou a especialista.

Dra. Inara Taís de Almeida - Neurologista e Neuroimunologista de São Paulo, membro titular da Academia Brasileira de Neurologia. Graduação em Medicina pela Faculdade de Tecnologia e Ciências e residência médica na Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Fellowship clínico (especialização) em Neuroimunologia no Ambulatório de Doenças Desmielinizantes na Universidade Federal de São Paulo - Unifesp.

Instagram: @inara.neuro


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Emergências psiquiátricas é tema de evento em São Paulo


O evento organizado pela ABP acontece no Centro de Convenções Frei Caneca nesta sexta e sábado



Nos dias 1 e 2 de julho, o Centro de Convenções Frei Caneca recebe a IX Jornada Nacional de Emergências Psiquiátricas, realizada anualmente pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). O evento, que já faz parte do calendário nacional de encontros da especialidade, reúne centenas de especialistas nacionais e internacionais, e é destinado tanto para médicos psiquiatras e outros profissionais da área de saúde, além de estudantes de medicina e residentes.

Dentre os assuntos abordados estão temas como agitação psicomotora, comportamento suicida, intoxicação aguda, surto psicótico, depressão grave, entre outros. A abertura da Jornada de Emergências contará com a participação especial da Dra. Danuta Wasserman, especialista em Suicidologia do Karolinska Institutet (Estocolmo - Suécia) e presidente eleita da Associação Mundial de Psiquiatria (WPA).

Durante os dois dias de evento, que acontece na sexta-feira, das 11h às 19h, e no sábado, das 9h às 19h30, os temas centrais discutidos nas mesas redondas incluem “Abordagem do comportamento suicida”, “Ética e deontologia na emergência”, “Emergências psiquiátricas em profissionais da saúde”, “Transtornos por uso de substâncias” e “Técnicas de contenção física”.

O encontro é uma excelente oportunidade de atualização científica em um assunto que desperta cada vez mais o interesse da classe médica. Outra novidade para os participantes é a possibilidade de acompanhar o evento de forma online por meio da Plataforma de Eventos da ABP. Para mais informações acesse www.abp.org.br/emergencias.


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