Mesmo com mais anos de estudo, pesquisas apontam que profissionais do sexo feminino têm remuneração menor que os homens
De acordo com o último levantamento da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego, referente a 2007, a participação feminina no mercado de trabalho formal brasileiro cresceu 7,5%, enquanto a masculina foi de 6,6%. Outro fator de destaque na pesquisa é que as mulheres ocupavam 394,3 mil postos de trabalho que precisavam de formação universitária, valor 130% superior às vagas preenchidas pelos homens nas mesmas condições.
A participação das mulheres em profissões tidas como masculinas também aumenta gradativamente. A mestra em Engenharia Civil e professora da Universidade Nove de Julho (UNINOVE), Renata Spinelli Buonopani, é um exemplo desse quadro. A escolha pela profissão foi por conta da diversidade de atividades que poderia exercer e da possibilidade de acompanhar um projeto por completo: da planta ao acabamento. Mesmo acreditando que, aos poucos, o preconceito e o machismo vão diminuindo, aponta que ser chefe numa profissão masculina pode não ser fácil. “Geralmente os operários testam os seus conhecimentos para ver se você, realmente, sabe o que está pedindo. Além disso, algumas empresas oferecem vagas exclusivas para homens”, aponta Renata.
Atuando no setor de Alta Tensão, uma área predominante masculina, a mestre em Engenharia Elétrica e também professora da UNINOVE, Valéria Cristiane Silva, diz que constantemente era questionada por buscar no mercado de trabalho uma posição de destaque e que a maioria das pessoas tinha o hábito de tentar deslocar as mulheres para o setor administrativo. “O desafio faz parte da vida e é como um combustível para nos dedicar e nos destacar por meio do intelecto feminino”, afirma.
Quando a maioria é masculina, Renata aponta que é necessário ter uma postura diferenciada, jamais usando de artifícios femininos, como fragilidade ou sensualidade. “Simplicidade sempre. No vestuário, nos acessórios, na maneira de tratar as pessoas. É com dignidade e capacidade que conquistei tudo o que tenho”, afirma. Valéria complementa que é preciso se impor, mostrando capacidade para desenvolver o trabalho com excelência. “Uma vez quebrado o primeiro impacto, somos respeitadas e muitas vezes tidas como exemplo de competência e de superação”, se orgulha.
De acordo com a Síntese de Indicadores Sociais (SIS 2009), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a escolaridade média das mulheres ocupadas na área urbana, em 2008, era de 9,2 anos de estudos e, dos homens, 8,2. Quando se fala em nível superior completo ou incompleto, as mulheres continuam em destaque. De cada 100 pessoas com 12 anos ou mais de estudo, 56,7 eram do sexo feminino.
Mesmo assim, a diferença salarial entre os sexos continua grande. O relatório publicado pelo Fórum Econômico Mundial aponta que o Brasil é a 82ª nação – dos 134 países participantes – com as maiores diferenças entre homens e mulheres, sendo que o pior desempenho ficou por conta das diferenças salariais e da participação no mercado de trabalho. “Hoje eu não sinto essa diferença. Presto serviços e, na maioria das vezes, os clientes acham que mulher é mais detalhista, deixando os relatórios com qualidade superior”, diz Renata.
Nesse dia 08 de março, as mulheres mostram que estão ‘com a bola toda’. Trabalham, estudam e ganham espaço por onde passam. Na sala de aula do curso de Engenharia Civil, Renata aponta que há uma quantidade significativa de representantes do sexo feminino. “As mulheres estão no mercado de trabalho em todas as áreas de atuação, conquistando cada vez mais espaços”, afirma Renata. E Valéria comemora: “Hoje eu sou muito feliz e respeitada em minha profissão”.