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sexta-feira, 21 de novembro de 2025

“Memórias Feitas de Caroá” reúne mulheres originárias de povos indígenas do Nordeste em residência artística em São Paulo

Memórias Feitas de Caroá - Foto: Divulgação



Sob idealização e orientação artística da artista Júlia Maynã, de origem, o projeto promove vivências que entrelaçam arte, memória e ancestralidade feminina indígena.


A residência artística “Memórias Feitas de Caroá” é voltada a mulheres que carregam em suas histórias o fio contínuo da origem indígena de etnias do Nordeste, e que hoje habitam a cidade de São Paulo. Idealizada pela artista-orientadora Júlia Maynã, pertencente à etnia Xukuru-Kariri (Palmeira dos Índios, Alagoas) e nascida no bairro Cachoeirinha, em São Paulo, a proposta nasce de sua pesquisa iniciada em 2020: Despertar Criativo Ancestral: propostas artístico-pedagógicas reveladoras de apagamentos históricos, apresentada na V Semana Científica do Agreste Pernambucano (2024) e publicada em seus anais.

No contexto indígena nordestino, o deslocamento forçado rumo ao Sudeste, muitas vezes imposto como alternativa para sobrevivência, foi uma das principais estratégias de apagamento histórico e cultural. Longe de seus territórios, essas famílias enfrentaram a negação de suas identidades e o silenciamento de suas práticas tradicionais. Ainda assim, reinventaram formas de resistência e seguiram transmitindo seus saberes entre panelas, gestos, valores, pinturas, rezas, histórias, corpos em movimento e canções.

A apresentação final da residência, prevista de forma gratuita para o período de 30 de novembro a 21 de dezembro, será uma performance cênico-musical viva, resultado dos processos de criação e pesquisa desenvolvidos ao longo dos últimos meses, expressando a continuidade das tradições indígenas nordestinas no contexto urbano paulista.

Em cena, barros, fibras, cantos, danças, poesias, teatro, artes plásticas, artesanatos e fotografias se misturam à voz e à memória de mulheres frutos das migrações indígenas de povos do Nordeste para São Paulo. Entre elas, estão mulheres com origem nos povos Fulni-ô, Kariri-Xocó, Xucuru-Kariri, Pankararu e Fulkaxo.

A ação será apresentada em quatro locais: a Aldeia Multiétnica Filhos desta Terra (Guarulhos), no dia 30 de novembro, com apresentação das 15h às 16h e roda de conversa das 16h às 17h; o Estúdio Mawaca (São Paulo), em 14 de dezembro, com apresentação das 16h às 17h e roda de conversa das 17h às 18h; o Museu das Culturas Indígenas (São Paulo), no dia 20 de dezembro, com apresentação das 16h as 17h e roda de conversa das 17h as 18h; e a Aldeia Yvy Porã, comunidade Guarani Mbya localizada na T.I do Jaraguá (São Paulo), com apresentação das 15h as 16h e roda de conversa das 16h as 17h.

Inspirado na força do caroá, fibra sagrada da Caatinga, o projeto celebra as memórias que resistem nos corpos e nas lutas dessas mulheres. É a partir dessas resistências - algumas visíveis, outras quase imperceptíveis - que a residência se constrói.

A proposta investiga os impactos intergeracionais da migração indígena, acolhendo tanto mulheres que mantêm vínculos vivos com suas comunidades, quanto aquelas que, diante de tantas violências e deslocamentos, tiveram esses laços interrompidos, mas seguem carregando, no corpo e na memória, as marcas profundas de suas origens e caminhos.

“O projeto é um convite para criarmos juntas uma arte que mostre os frutos dessas migrações, lembrando que nossas famílias ajudaram a construir essa cidade. Desde julho, temos partilhado histórias, refeições e muita criação. Como orientadora artística do processo, tenho levado sempre propostas de criação que partem das nossas memórias, lembrar das nossas mães, pais, avós, e o que deixaram. E esse processo, pra mim, já é o maior resultado: o fortalecimento coletivo dessas histórias”, afirma Júlia Maynã, artista-orientadora e idealizadora do projeto.

A residência é composta por seis artistas residentes, uma artista-orientadora (Júlia Maynã) e uma comunicadora (Ypituna Pankararu). Todas as participantes vivem em São Paulo e pertencem a diferentes faixas etárias, compartilhando em suas trajetórias a origem indígena de povos do Nordeste, entre elas dos povos Fulni-ô, Kariri-Xocó, Xucuru-Kariri e Pankararu e Fulkaxo.

“Comunicar esse projeto é também reconstruir nossas narrativas. É mostrar que as mulheres indígenas nordestinas seguem tecendo memórias e identidades, mesmo longe de seus territórios”, ressalta Ypituna Pankararu, comunicadora da residência.

A ficha técnica do projeto reúne um coletivo de mulheres originárias que dão corpo, voz e gesto à criação. As artistas-residentes e intérpretes-criadoras são Yndyan Fulkaxo, Michele Saints, Upya Pankararu, Txayane Fulni-ô, Laís Santos, Simone Pankararu e Júlia Maynã, que juntas também constroem as obras que compõem o cenário.

A concepção, idealização e direção geral da residência são de Júlia Maynã, que assina igualmente a orientação artística, a mediação dos processos de criação e a direção cênica da apresentação final. O figurino, idealizado de forma coletiva, foi costurado por Maria Lúcia Olegário e customizado e pintado por Laís Santos, Upya Pankararu e Michele Saints.

A coordenação de comunicação é de Ypituna Pankararu, e a produção executiva leva também a assinatura de Júlia Maynã.


O projeto conta com o apoio do Espaço Pankararu – Aldeia Multiétnica Filhos da Terra e do Condô Cultural.

"Memórias feitas de caroá: mulheres frutos das migrações indígenas nordestinas para São Paulo" é um projeto realizado pelo Ministério da Cultura e Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústrias Criativas, pelo Fomento CULTSP, pela Política Nacional Aldir Blanc e pelo Programa de Ação Cultural - PROAC, selecionado no Edital 21/2024.


Serviço:

O quê: Residência Artística “Memórias Feitas de Caroá” – Intervenções finais
Quando: 30 de novembro; 14, 20 e 21 de dezembro de 2025
Onde: Guarulhos e São Paulo (SP)
Mais informações: @memoriasfeitasdecaroa (instagram)