Com patrocínio da Petrobras, companhia radicaliza nas formas narrativa e espacial para abordar as relações na família, na amizade e no amor.
Após as recentes e bem-sucedidas montagens de dois autores geniais do século XX, Bertolt Brecht (Mãe Coragem e seus Filhos) e Nelson Rodrigues (Toda Nudez será Castigada), a Armazém Companhia de Teatro retoma o caminho da dramaturgia própria. Inveja dos Anjos é mais um fruto do processo de criação forjado em 21 anos de grupo. O espetáculo estreia em São Paulo, no dia 7 de agosto, sexta-feira, no Teatro SESC Anchieta do SESC Consolação, às 21 horas, para temporada de apenas quatro semanas.
O poeta Maurício Arruda Mendonça e o diretor Paulo de Moraes assinam a dramaturgia desta montagem que venceu o Prêmio Shell de Teatro 2008, nas categorias de Melhor Autor e Melhor Atriz (Patrícia Selonk), além do Prêmio APTR 2008, nas categorias de Melhor Espetáculo e Melhor Iluminação (Maneco Quinderé).
Sinopse: Uma ferrovia que começa e termina no infinito atravessa a história de Tomás, Cecília e Luisa. A partir do encontro dos três amigos – que discutem suas memórias -, o passado vai se materializando em cena, na forma de afetos perdidos ou a serem descobertos.
O espaço cênico de Inveja dos Anjos determina experimentos dos atores com corpo e voz que ajudam a dar nexo a uma narrativa invariavelmente fragmentada mas jamais inorgânica.
O ponto de partida para a peça foi a imagem dos trilhos de trem. Paulo guarda-a desde a infância no interior paranaense, quando assistia ao vaivém dos vagões e das pessoas na estação da cidade onde nasceu. Os trilhos é o lugar do entroncamento imaginário nas histórias a que ele e Maurício deram asas.
Um carteiro, Eleazar, transita pelas relações daquela localidade. O mensageiro ora sobrevoa ora interfere diretamente nos rumos dos outros. É por meio dele que acessamos os núcleos do pai e da filha, Tomás e Natália; da mãe e da filha, Luísa e Branca; e de um casal, Rocco e Cecília. Cada qual atravessa uma crise precipitada por mortes ou nascimentos de fato ou simbólicos.
Natália tem nove anos e sua mãe está internada por dependência química. Acostumada a responsabilidades adultas, equilibrista nata em contextos sociais precários, a menina resolve bater à porta do pai que jamais conhecera. Escritor em crise e dono de um sebo, Tomás vaticinava cremar a própria memória quando a vida ganha novos significados, a partir desse encontro, justamente projetado do passado.
De natureza mais profundamente amorosa, o vínculo mãe-filha sofre um baque nos primeiros anos que jamais cicatriza. Luísa, uma angustiada confeiteira que busca tornar a existência mais doce, inverte os papéis com Branca, a velha senhora prisioneira da memória e que hoje carece de cuidados feito criança. O espectador conhecerá a razão da morte-em-vida em que a filha se encontra e da qual tenta se livrar.
A garçonete Cecília procura superar a paixão por Rocco, um pseudo-forasteiro daquelas terras às quais sempre volta. Ela cansou das dissimulações; não por acaso a mágica é um dos ofícios que ele aprendeu mundo afora aplicando golpes. A leveza pode ser insuportável. E o amor romântico será desconstruído de forma bastante original nessa trama sem final feliz, mas definitivamente transformadora para o homem e a mulher envolvidos.
Os afetos familiares são apresentados de maneira não-convencional. Contradições, desesperos, perseveranças, humores e inclusive algumas epifanias pontuam cada um dos núcleos que também possuem células intercomunicantes. “A relação que talvez mais interessa, e que vai permear tudo isso, é a da irmandade. Não a irmandade consanguínea, mas a decorrida da amizade que une desde a infância Tomás, Luísa e Cecília”, afirma Paulo de Moraes. O trio desenha uma espécie de rede de proteção que ajuda a reescrever seus destinos em meio aos tipos que simplesmente aparecem ou desaparecem.
Em sua estrutura narrativa, Inveja dos Anjos absorve elementos de um certo memorialismo literário, já que no embrião das pesquisas da equipe para esse trabalho estão os exercícios e estudos sobre a obra do colombiano Gabriel García Márquez e do americano Paul Auster. É o espírito dessa escrita que impregna o percurso de Natália, por exemplo. O tempo todo ela recorre à fábula para contornar duras realidades em mãos dadas com Chapeuzinho Vermelho ou com Alice, esta menina a quem a Armazém adotou num dos seus maiores sucessos de público e de crítica, Alice Através do Espelho (1999), livremente inspirada em Lewis Carroll. Já a velha Branca surge, a certa altura, dançando abraçada a um espantalho caracterizado pela metade de um paletó envolto em parte do corpo da atriz que a interpreta, numa tradução perfeita daqueles dias de fatos e fantasias revelados; tentativas de perpetuar ou apagar rostos e sentimentos.
As referências cruzadas na narrativa, suas quebras, são características no trabalho da companhia desde pelo menos A Ratoeira é o Gato (1993), a peça que demarcou identidade e linguagem através da expressão física dos atores-criadores ao retratar formas arcaicas e contemporâneas da violência. Sob o Sol em meu Leito após a Água (1997), que encenou o embate de dois irmãos, principiava no meio da história, ia até o fim e voltava ao começo. “A fragmentação ganha sentido para a gente por ser o movimento do mundo ordenado segundo uma lógica interna. Essa lógica interna é a nossa voz. É o lugar onde a gente se sente, realmente, representado. A fragmentação talvez seja a grande protagonista do mundo representacional da Armazém”, afirma Paulo de Mores.
Logo no início do novo espetáculo, expõem-se os códigos da fragmentação para convidar o espectador à conversa cênica. São tempos, lugares, pensamentos, diálogos, climas e até personagens em suspensão, literalmente. José, um homem sem um dos braços, ser ancestral da cidade, aparece amarrado por cabo de aço (remissão a Pessoas Invisíveis, 2002) e desce das alturas andando verticalmente sobre os trilhos direcionados para o céu. Explica-se. Quando chegar ao teatro, o espectador perceberá a reprodução cenográfica do trecho de uma estrada de ferro que corta a boca de cena de ponta a ponta. O olhar sobre as vigas de aço e os dormentes no chão, súbito, é desviado para o plano aéreo, numa variante que tem a ver com os próprios deslocamentos dos personagens ao longo do espetáculo, altos e baixos existenciais.
As cenas são consonantes ainda nuns poucos objetos em comum: a cadeira, a mesa, o sofá e a cama. Nada é de alguém, mas de todos. O campo de ação compreende cerca de vinte metros de largura por seis metros de profundidade. A platéia frontal cresce diante dos atores em apenas quatro fileiras, que comportam 126 espectadores. O fundo da cena é concreto: a parede desencapada da Fundição, tijolos e cimento aparentes. Apesar da proximidade, a visão do público é radicalmente horizontal; uma cenografia a um só tempo aberta e fechada. O drama Inveja dos Anjos deseja estimular o espectador a “editar” enquadramentos, como se lhe coubesse acompanhar o movimento dos vagões, ou melhor, dos quadros ali representados tal fotogramas do cinematógrafo, o filme da vida que passa ligeiro em situações-limites.
Espetáculo - Inveja dos Anjos
Com Armazém Companhia de Teatro - www.armazemciadeteatro.com.br
Direção: Paulo de Moraes
Dramaturgia: Maurício Arruda Mendonça e Paulo de Moraes
Elenco: Marcelo Guerra (Eleazar), Patrícia Selonk (Cecília), Ricardo Martins (Tomás), Simone Mazzer (Luísa), Simone Vianna (Branca), Thales Coutinho (Rocco/homem sem braço) e Verônica Rocha (Natália).
Iluminação: Maneco Quinderé
Figurinos: Rita Murtinho
Cenografia: Paulo de Moraes e Carla Berri
Trilha Sonora (Composição e Pesquisa): Ricco Viana
Projeto Gráfico: Alexandre de Castro
Fotografias: Mauro Kury
Produção Executiva: Flávia Menezes
Produção São Paulo: Darson Ribeiro
Produção: Armazém Companhia de Teatro
Patrocínio: Petrobras
Realização: SESC São Paulo
Estreia Dia 7 de agosto – sexta-feira – às 21 horas
Teatro Sesc Anchieta - SESC Consolação – www.sescsp.org.br
Rua Dr. Vila Nova, 245 - Vila Buarque?SP – Tel: (11) 3234-3000
Temporada – sexta e sábado (21 horas) e domingo (19 horas) – Até 30/08/09
Ingressos: R$ 20,00 (inteira), R$ 10,00 (estudantes, maiores de 60 anos, professores da rede pública usuário matriculado e dependentes) e R$ 5,00 (trabalhador no comércio e serviços matriculado e dependentes)
Duração: 1h45 Gênero: Drama - Desaconselhável para menores de 12 anos
Capacidade: 320 lugares - Bilheteria: 2ª a 6ª (12h às 22h), sáb (9h às 21h) e dom (14h às 19h) Aceita Cheque e todos os cartões - Ar condicionado e acesso universal - Ingressos nas Unidades do SESC e CineSESC – Não faz reservas
Não possui estacionamento.
Após as recentes e bem-sucedidas montagens de dois autores geniais do século XX, Bertolt Brecht (Mãe Coragem e seus Filhos) e Nelson Rodrigues (Toda Nudez será Castigada), a Armazém Companhia de Teatro retoma o caminho da dramaturgia própria. Inveja dos Anjos é mais um fruto do processo de criação forjado em 21 anos de grupo. O espetáculo estreia em São Paulo, no dia 7 de agosto, sexta-feira, no Teatro SESC Anchieta do SESC Consolação, às 21 horas, para temporada de apenas quatro semanas.
O poeta Maurício Arruda Mendonça e o diretor Paulo de Moraes assinam a dramaturgia desta montagem que venceu o Prêmio Shell de Teatro 2008, nas categorias de Melhor Autor e Melhor Atriz (Patrícia Selonk), além do Prêmio APTR 2008, nas categorias de Melhor Espetáculo e Melhor Iluminação (Maneco Quinderé).
Sinopse: Uma ferrovia que começa e termina no infinito atravessa a história de Tomás, Cecília e Luisa. A partir do encontro dos três amigos – que discutem suas memórias -, o passado vai se materializando em cena, na forma de afetos perdidos ou a serem descobertos.
O espaço cênico de Inveja dos Anjos determina experimentos dos atores com corpo e voz que ajudam a dar nexo a uma narrativa invariavelmente fragmentada mas jamais inorgânica.
O ponto de partida para a peça foi a imagem dos trilhos de trem. Paulo guarda-a desde a infância no interior paranaense, quando assistia ao vaivém dos vagões e das pessoas na estação da cidade onde nasceu. Os trilhos é o lugar do entroncamento imaginário nas histórias a que ele e Maurício deram asas.
Um carteiro, Eleazar, transita pelas relações daquela localidade. O mensageiro ora sobrevoa ora interfere diretamente nos rumos dos outros. É por meio dele que acessamos os núcleos do pai e da filha, Tomás e Natália; da mãe e da filha, Luísa e Branca; e de um casal, Rocco e Cecília. Cada qual atravessa uma crise precipitada por mortes ou nascimentos de fato ou simbólicos.
Natália tem nove anos e sua mãe está internada por dependência química. Acostumada a responsabilidades adultas, equilibrista nata em contextos sociais precários, a menina resolve bater à porta do pai que jamais conhecera. Escritor em crise e dono de um sebo, Tomás vaticinava cremar a própria memória quando a vida ganha novos significados, a partir desse encontro, justamente projetado do passado.
De natureza mais profundamente amorosa, o vínculo mãe-filha sofre um baque nos primeiros anos que jamais cicatriza. Luísa, uma angustiada confeiteira que busca tornar a existência mais doce, inverte os papéis com Branca, a velha senhora prisioneira da memória e que hoje carece de cuidados feito criança. O espectador conhecerá a razão da morte-em-vida em que a filha se encontra e da qual tenta se livrar.
A garçonete Cecília procura superar a paixão por Rocco, um pseudo-forasteiro daquelas terras às quais sempre volta. Ela cansou das dissimulações; não por acaso a mágica é um dos ofícios que ele aprendeu mundo afora aplicando golpes. A leveza pode ser insuportável. E o amor romântico será desconstruído de forma bastante original nessa trama sem final feliz, mas definitivamente transformadora para o homem e a mulher envolvidos.
Os afetos familiares são apresentados de maneira não-convencional. Contradições, desesperos, perseveranças, humores e inclusive algumas epifanias pontuam cada um dos núcleos que também possuem células intercomunicantes. “A relação que talvez mais interessa, e que vai permear tudo isso, é a da irmandade. Não a irmandade consanguínea, mas a decorrida da amizade que une desde a infância Tomás, Luísa e Cecília”, afirma Paulo de Moraes. O trio desenha uma espécie de rede de proteção que ajuda a reescrever seus destinos em meio aos tipos que simplesmente aparecem ou desaparecem.
Em sua estrutura narrativa, Inveja dos Anjos absorve elementos de um certo memorialismo literário, já que no embrião das pesquisas da equipe para esse trabalho estão os exercícios e estudos sobre a obra do colombiano Gabriel García Márquez e do americano Paul Auster. É o espírito dessa escrita que impregna o percurso de Natália, por exemplo. O tempo todo ela recorre à fábula para contornar duras realidades em mãos dadas com Chapeuzinho Vermelho ou com Alice, esta menina a quem a Armazém adotou num dos seus maiores sucessos de público e de crítica, Alice Através do Espelho (1999), livremente inspirada em Lewis Carroll. Já a velha Branca surge, a certa altura, dançando abraçada a um espantalho caracterizado pela metade de um paletó envolto em parte do corpo da atriz que a interpreta, numa tradução perfeita daqueles dias de fatos e fantasias revelados; tentativas de perpetuar ou apagar rostos e sentimentos.
As referências cruzadas na narrativa, suas quebras, são características no trabalho da companhia desde pelo menos A Ratoeira é o Gato (1993), a peça que demarcou identidade e linguagem através da expressão física dos atores-criadores ao retratar formas arcaicas e contemporâneas da violência. Sob o Sol em meu Leito após a Água (1997), que encenou o embate de dois irmãos, principiava no meio da história, ia até o fim e voltava ao começo. “A fragmentação ganha sentido para a gente por ser o movimento do mundo ordenado segundo uma lógica interna. Essa lógica interna é a nossa voz. É o lugar onde a gente se sente, realmente, representado. A fragmentação talvez seja a grande protagonista do mundo representacional da Armazém”, afirma Paulo de Mores.
Logo no início do novo espetáculo, expõem-se os códigos da fragmentação para convidar o espectador à conversa cênica. São tempos, lugares, pensamentos, diálogos, climas e até personagens em suspensão, literalmente. José, um homem sem um dos braços, ser ancestral da cidade, aparece amarrado por cabo de aço (remissão a Pessoas Invisíveis, 2002) e desce das alturas andando verticalmente sobre os trilhos direcionados para o céu. Explica-se. Quando chegar ao teatro, o espectador perceberá a reprodução cenográfica do trecho de uma estrada de ferro que corta a boca de cena de ponta a ponta. O olhar sobre as vigas de aço e os dormentes no chão, súbito, é desviado para o plano aéreo, numa variante que tem a ver com os próprios deslocamentos dos personagens ao longo do espetáculo, altos e baixos existenciais.
As cenas são consonantes ainda nuns poucos objetos em comum: a cadeira, a mesa, o sofá e a cama. Nada é de alguém, mas de todos. O campo de ação compreende cerca de vinte metros de largura por seis metros de profundidade. A platéia frontal cresce diante dos atores em apenas quatro fileiras, que comportam 126 espectadores. O fundo da cena é concreto: a parede desencapada da Fundição, tijolos e cimento aparentes. Apesar da proximidade, a visão do público é radicalmente horizontal; uma cenografia a um só tempo aberta e fechada. O drama Inveja dos Anjos deseja estimular o espectador a “editar” enquadramentos, como se lhe coubesse acompanhar o movimento dos vagões, ou melhor, dos quadros ali representados tal fotogramas do cinematógrafo, o filme da vida que passa ligeiro em situações-limites.
Espetáculo - Inveja dos Anjos
Com Armazém Companhia de Teatro - www.armazemciadeteatro.com.br
Direção: Paulo de Moraes
Dramaturgia: Maurício Arruda Mendonça e Paulo de Moraes
Elenco: Marcelo Guerra (Eleazar), Patrícia Selonk (Cecília), Ricardo Martins (Tomás), Simone Mazzer (Luísa), Simone Vianna (Branca), Thales Coutinho (Rocco/homem sem braço) e Verônica Rocha (Natália).
Iluminação: Maneco Quinderé
Figurinos: Rita Murtinho
Cenografia: Paulo de Moraes e Carla Berri
Trilha Sonora (Composição e Pesquisa): Ricco Viana
Projeto Gráfico: Alexandre de Castro
Fotografias: Mauro Kury
Produção Executiva: Flávia Menezes
Produção São Paulo: Darson Ribeiro
Produção: Armazém Companhia de Teatro
Patrocínio: Petrobras
Realização: SESC São Paulo
Estreia Dia 7 de agosto – sexta-feira – às 21 horas
Teatro Sesc Anchieta - SESC Consolação – www.sescsp.org.br
Rua Dr. Vila Nova, 245 - Vila Buarque?SP – Tel: (11) 3234-3000
Temporada – sexta e sábado (21 horas) e domingo (19 horas) – Até 30/08/09
Ingressos: R$ 20,00 (inteira), R$ 10,00 (estudantes, maiores de 60 anos, professores da rede pública usuário matriculado e dependentes) e R$ 5,00 (trabalhador no comércio e serviços matriculado e dependentes)
Duração: 1h45 Gênero: Drama - Desaconselhável para menores de 12 anos
Capacidade: 320 lugares - Bilheteria: 2ª a 6ª (12h às 22h), sáb (9h às 21h) e dom (14h às 19h) Aceita Cheque e todos os cartões - Ar condicionado e acesso universal - Ingressos nas Unidades do SESC e CineSESC – Não faz reservas
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