Nossos Vídeos

sexta-feira, 27 de junho de 2014

CRIANÇAS QUE MORDEM, TEM SOLUÇÃO?

“Mordeu? Vai pro quarto escuro com o lobo mau”
Ao explicitar a sua tática, o ex-jogador
Ronaldo Fenômeno traz à tona o despreparo
de alguns pais na hora de educar os filhos



A punição aplicada pela FIFA ao jogador do Uruguai, Luis Suárez, por morder um zagueiro italiano pode ou não fazer sentido dependendo da interpretação. Mas o desdobramento do caso revela que a deseducação não é exclusividade dos atletas. Ela também impera nos bastidores da Copa, entre os famosos. É o que fica evidente no comentário que o ex-jogador Ronaldo fez sobre o assunto: “Sei que mordida dói. Minhas filhas pequenas mordiam até pouco tempo e eu punia: quarto escuro com lobo mau”. Que os fãs do Fenômeno com filhos na primeira infância não levem o conselho a sério, pois os desdobramentos podem ser catastróficos.
“Colocar uma criança num quarto escuro não a faz refletir sobre o seu ato”, comenta a psicóloga clínica Ana Cássia Maturano. “Sem contar que você, adulto, continua agindo na esfera da agressividade e isso é um péssimo exemplo”. E que dizer da combinação quarto escuro com lobo mau? “É algo que deve ser aterrorizante para uma criança”, diz Ana Cássia. “Você apenas reforça o medo natural que elas já sentem por terem um pensamento fantasioso”.
Com relação ao ato de morder, a despeito de ser algo realmente estranho partindo de um adulto, entre os pequenos é absolutamente normal. “Quando os pequenos descobrem o poder dos dentes acabam usando, seja para agredir ou despertar a atenção. É uma forma de se expressar, considerada até normal, nada inusitado”, explica a psicopedagoga Cynthia Wood. “O papel do adulto é mostrar que isso não se faz, sem jamais reprimi-la com punição e violência”.
Punições, como a que fez Ronaldo, podem trazer prejuízos tanto para os pais como para as crianças.  “Colocar num quarto escuro e dizer que o lobo mau está lá é uma tortura emocional”, alerta a psicóloga Maria Rocha, coordenadora pedagógica do colégio Ápice de Educação Infantil, localizado no bairro do Morumbi, em São Paulo. Segundo a especialista, “uma criança que fica trancada em um quarto escuro pode criar um trauma e levá-lo para a vida toda”. Isso para não dizer do risco da quebra de confiança nos pais, figuras especiais em quem os pequenos confiam acima de tudo. “Ela pode, inclusive, deixar de confiar neles e não é difícil imaginar as conseqüências disso”, diz Maria Rocha.
E como agir nas situações em que as crianças mordem? “Os pais devem explicar que existem regras na vida e que ela não pode fazer aquilo. Caso a criança tenha mordido um colega porque não quis dividir o brinquedo, o melhor é tirar o brinquedo dela, guardar e explicar que é preciso saber dividir”, ensina Cynthia Wood.  

Segundo Maria Rocha, também é importante cuidar para não estimular que o filho morda. “Não se deve ficar falando sobre o assunto, pois isso pode alimentar um comportamento negativo e a criança pode acabar mordendo apenas para chamar a atenção”.