"Presidente Michel Temer, desejo-lhe sucesso porque o seu sucesso será também o sucesso do Brasil. Sei da tensão do momento e da responsabilidade que está assumindo. Os brasileiros estão olhando com ansiedade, preocupação e ceticismo, mas também com esperança de transformação.
Você é um político experiente e parte agora, aos 75 anos, para o maior desafio de sua vida. Tenho a certeza de que irá enfrentá-lo com determinação e garra. Eu adoro desafios. Eles são revigorantes; oportunidades de pôr em prática tudo o que se aprendeu na vida e mostrar realmente o que somos. Mas tem um ponto vital -é preciso lutar e vencer.
Presidente, temos coisas em comum, como idade próxima e filhos pequenos. Pensar neles lhe dará ainda mais força para lutar e construir o país do qual se orgulharão.
O mundo e o Brasil são carentes de líderes, e você tem a chance histórica de assumir papel de liderança. As expectativas são grandes, e as dificuldades também.
O Brasil teve muitas conquistas na década passada, com crescimento e redução das desigualdades. Mais de 30 milhões de pessoas saíram da pobreza. Essa dinâmica virtuosa, contudo, foi perdida, e entramos num ciclo vicioso no qual as crises econômica e política e a corrupção se entrelaçaram numa espiral negativa. O saldo é desemprego a 10% e a maior recessão em décadas.
Presidente, a tarefa é árdua, mas você e equipe podem realizá-la. Como afirmou no discurso inaugural, o resgate da confiança é fundamental. Para isso, é preciso atacar em três frentes.
Primeiro, garantir a continuidade da Lava Jato. O Brasil e o mundo não suportam mais a corrupção. Segundo, reequilibrar urgentemente as contas públicas, afastando de vez os temores de insolvência que geram insegurança e travam investimentos. Terceiro, é indispensável encaminhar as reformas estruturais, como a previdenciária, a tributária, a trabalhista e a política, defendidas pelos seus antecessores, mas jamais realizadas.
Essas tarefas não são só de seu governo. Para tirar o país desse sofrimento e olhar à frente com esperança e confiança, precisamos estar todos engajados. O remédio pode ser amargo, desde que tire o país dessa situação crítica. Somos uma democracia vibrante, com instituições sólidas. Os Três Poderes e a população precisam se engajar nessa retomada, inclusive com críticas, mas sempre dentro das regras do jogo democrático.
Tenho muito orgulho de ser brasileiro e sei que o nosso povo será capaz de superar mais essa crise. É urgente destravar a economia, voltar a crescer, investir, gerar emprego e aumentar a produtividade. Restabelecendo a confiança e o equilíbrio político e sinalizando que as dificuldades serão superadas, os investimentos voltarão. O Brasil tem muitas oportunidades, com mercado imenso e empresas, empreendedores e trabalhadores competentes.
As dificuldades não desaparecerão da noite para o dia, todavia a esperança e a vontade de fazer as coisas certas podem começar a transformar o país.
Meu apoio, acima de tudo, é e sempre será ao desenvolvimento do Brasil. Como foi o meu apoio a governos anteriores e a suas políticas que nos ajudaram a crescer e a reduzir desigualdades.
Infelizmente, pouca coisa deu certo nos últimos anos. É preciso reconhecer isso e olhar à frente pensando no país. Não se deve praticar oposição destrutiva ou questionar a legitimidade do governo.
A legitimidade virá de seu trabalho, presidente, e da aprovação e reconhecimento que os brasileiros venham a lhe dar. Creio que terá apoio no Congresso às reformas, mas é preciso trabalhar duro para unir as forças políticas no objetivo maior de recuperar o Brasil. O momento é de pensar menos em si e mais no país.
Força, vá em frente. Seja o presidente de todos nós. Governe para todos, dos mais pobres aos mais ricos, dos trabalhadores aos empresários. Você pode.
A gente é aquilo que escolhe ser na vida. Escolha ser o presidente que o Brasil anseia. Como faço sempre comigo, peço a Deus que ilumine o seu caminho e o daqueles que estão com você. E que um novo Brasil, melhor, esteja surgindo para todos os brasileiros."
Abílio dos Santos Diniz é Presidente do Conselho de administração da BRF. Foi sócio da Companhia Brasileira de Distribuição, que inclui o Pão de Açúcar, Extra, Açaí, Eletro, Ponto Frio e Casas Bahia.